De Paipa à Zapatoca, o maior [e mais lindo] tobogã da viagem…

“(…) Racionamos a água que tínhamos e continuamos subindo… Até parei em uma casa, mas depois de 5 minutos, só havia cachorros latindo e algumas vacas… Hahahaha!!! Tou rindo agora porque passou, mas na hora eu tava nervoso!!! 6km de subida, um posto de gasolina! Isso significava água, ÁGUA!!! Tomei 2 gatorades e +2l de água!!! (…)”

“Na Colômbia, ou você está subindo ou está descendo…”

[para ouvir agora: Academia da Berlinda – “Pedalando”]

Essa frase foi dita pelo nosso primeiro anfitrião da viagem, El Profe Hernando Diaz, de Zapatoca… E mesmo três dias antes de nos conhecermos pessoalmente, esse cara já era fundamental para o nosso percurso, falando sobre distâncias, subidas, condições das estradas etc. Mas calma, já já falo mais sobre o Hernando e Zapatoca…

De Paipa à Palermo…

Saímos de Paipa umas 8h rumo ao povoado de Palermo, depois de passar pelo centro de Paipa, vimos apenas uma grande montanha e pensamos: “RUMBOOOOORA!!!” Hahahahahaha!!! Com uma hora de subida a gente já começávamos a pensar: “PORRA, ACABA NÃO?!” Com duas horas de subida, tínhamos certeza de que não iria acabar nem tão cedo. Vários ciclistas da Equipe de Paipa estavam a treinar nessa montanha, que bem de verdade, foi a montanha mais dura da minha vida. Dá uma olhadinha como foi esse dia de pedal. Com mais ou menos 4 horas de subida (é isso mesmo, QUATRO HORAS!!!) estávamos dentro das nuvens e a sensação era que chovia de cima pra baixo, de baixo pra cima e de todas as formas que vocês possam imaginar, sem contar que nessa hora já fazia frio, então nossos casacos serviam também como uma panela de pressão, fazendo a gente suar ainda mais… Depois de 5 horas pedalando e parando (MUITO!), o asfalto da montanha dava lugar para um barro amarelo, com muitas pedras e bem antes disso, Victor pensava muito em virar a bike e voltarmos para Paipa e eu, confesso que pensava em fazer o mesmo, mas estava meio que na gana e vontade de saber como seria descer aquela montanha pro outro lado. Assim ficamos nos questionando a cada parada para descansar as pernas e o coração. É muito louco como nessas montanhas, você as vezes começa a fazer coisas no automático e entra em transe, sem raciocinar quase nada. Ainda tínhamos mais uns 30 minutos de subida muito difíceis na Carretera de Trocha (barro + pedra) e depois era “só descer”… Agora imagina descer 3 horas, sem passar de 15km/h (sendo bem otimista!), com muita chuva em alguns lugares, com alguns cachorros vindo atrás da gente (hahahaha!!!)… Se a subida tinha sido dura, essa foi a descida mais cansativa, técnica e doida da minha vida.

 

Por mais que nós estivéssemos esgotados, a cada curva, tanto na subida quanto na descida, o visual das montanhas de Boyacá nos surpreendia e nos dizia que estávamos SIM no caminho certo para encontrar mais coisas boas e pessoas fantásticas. ;))) Quando chegamos no povoado de Palermo, almoçamos e decidimos que iríamos pedalar +20km para Gámbita (o povoado do Manoel e do Steven), já que todos diziam que, apesar da estrada ser de toucha, só teria uma subida para chegar em Gámbita. E essa disposição toda é porque tínhamos passado 3 horas sem rodar o pedal! Hahahaha!!!

Nesse pedal gostoso, mas que a gente não conseguia desenvolver muita velocidade, fomos o tempo todo beirando um rio (que não sei o nome), que tinha uma energia sensacional e meio que nos empurrava. Eu começava a me preocupar com a hora (eram cerca de 17h – nesse local escurecia totalmente umas 18h) e a gente tinha pedalado uns 10km, metade do percurso, mas AINDA TINHA UMA MONTANHA (passei sempre a acreditar que teria uma montanha quando as pessoas diziam que era uma subida)! Daí, nos grita de uma casa, um cara muito sangue bom, apenas para nos pedir um cigarro. Esse cara era o Fabian, figurassa que é instrutor de rafting e estava há cerca de 20 dias naquela região cuidando de um espaço que tem uma cachoeira de +300m de queda d’água. Ele nos ofereceu para dormir na cabana que ele ocupava em uma vilinha sensacional. Conversamos um monte, um pouco em português para ele praticar, pois havia vivido 3 meses em Vila Velha/ES (ahhhh que saudade daí…). Comemos cuscuz e partirmos para um sono dos bons!!!

 

De Palermo à Vado Real…

Acordar, arrumar os alforges na bike e pedalar… Essa era nossa rotina fazia uma semana. Fabian já havia saído para o local da cascata e saímos um pouco depois. Não fomos conhecer a queda d’água porque queríamos aproveitar o sol da manhã para pedalar mais tranquilo. Nos despedimos e seu cachorro Bruno veio atrás da gente. Hahahaha!!! Só cerca de 300m a gente se deu conta que Fabian estava gritando por ele. Ahhhh, os cachorros da Colômbia são um caso a parte. Hahahaha!!!

Subimos a montanha e chegamos à Gámbita, onde tivemos o contato mais emocionante da viagem! Depois, TINHA DESCIDA (e que descida!), tinha subida, tinha sol forte e E TINHA ASFALTO!!! ;)))))) Sei bem que o asfalta causa uma sensação muito maior de calor, mas depois de quase dois dias inteiros em estradas de barro (e pedra – que dificulta mais), estávamos desejando asfalto. Além do pedal ser mais redondo, as bikes sofrem muito nas estradas não pavimentadas. Sempre tínhamos que ficar verificando se os parafusos dos bagageiros não estavam folgando etc. E começavam a aparecer os primeiros sinais de bicicletas de cicloturismo (que tem que estar preparada pra tudo!): Na descida que o strava não gravou (acho que por culpa minha, que devo ter pausado quando estávamos com Manoel e Steven), minhas sapatas de freio dianteiras simplesmente SUMIRAM! :O Sem mais novidades, só comemoramos em voltar para Carretera Central 45A com uma carne de carneiro assada e umas cervejinhas!!! ;))))

 

[para ouvir agora: Espinoza Paz feat. Johnny Rivera – “Como una Pelota”]

De Vado Real à Socorro…

Também não teve muita coisa diferente. Montanhas, paisagens lindas e uma estrada sem muito acostamento. Era muito de boa de pedalar, o dia era ensolarado e tinha muita descida também… Chegamos umas 15h em Socorro, depois desse pedal, o que nos permitiu almoçar de boa, procurar um canto para dormir e depois ainda dar uma caminhada à noite.

 

De Socorro à Zapatoca…

Eram cerca de 78km, mas lembram do Hernando? Ele já havia nos dito que a estrada era de toucha e que até chegar à Galán, teríamos 8km muito duros. Pegamos a estrada de barro depois de arrumarmos o primeiro pneu furado de Victor e descemos até a margem do Rio Suarez. Esse rio era de uma força e uma energia que não dá para narrar com palavras. E fomos pedalando uns 20km bem próximos ao rio numa estradinha de boa. Nessa ponte, que aparece nas fotos, tiramos algumas fotos e descansamos um monte. A energia desse lugar é incrível.

 

Daí fomos começar a subida umas 11h. Ao subir uns 800m, perguntei a Victor sobre nossa água e ele me deu a resposta mais indesejada. Não tínhamos mais água, além de duas garrafas de 750ml – apenas para contextualizar, eu levo 3 garrafas de 750ml e Victor uma garrafa de 500ml + 1 galão de 5l. Eu já fiquei sem água em outras viagens de bicicleta e isso é uma coisa que me desespera. Meu psicológico começava a dizer “FUDEU!” e parece que você entra numa maré de mazelas: o sol ficava cada vez mais forte, o vento que estava correndo havia sumido, a fome aumentava exponencialmente e até o taquinho da minha sapatilha não encaixava mais no pedal. Hahahahahaha!!! Racionamos a água que tínhamos e continuamos subindo… Até parei em uma casa, mas depois de 5 minutos, só havia cachorros latindo e algumas vacas… Hahahaha!!! Tou rindo agora porque passou, mas na hora eu tava nervoso!!! 6km de subida, um posto de gasolina! Isso significava água, ÁGUA!!! Tomei 2 gatorades e +2l de água!!! ;)))))))) E essa parada do psicológico é tão louca, que os 2km seguintes foram mega tranquilos e até tinha vento e sombras!!! ;)))))

Paramos em Galán destruídos desse pedal, mais da cabeça do que do corpo. Victor quase não falava nada. Saí para ver onde poderíamos comer/repousar o resto do dia. A ideia era dormir em Galán e no outro dia ir para Zapatoca, já que nosso amigo Hernando havia nos dito que teríamos 25km plano e depois uma subida dura de 18km. Fui em um hotel, que tinha restaurante e falei com a Senhora Elaila sobre quanto era o almoço, uma noite no hotel e se havia alguma caminhonete que fazia o transporte para Zapatoca. 8 mil, 30mil e conhecia um senhor que fazia esse traslado. Fui buscar #ZINEBRA e chamar Victor para comer e a senhora Elaila simplesmente sumiu. Hahahahaha!!! Mas ela reapareceu na hora que acabávamos o almoço e estava saindo para achar o senhor da caminhonete. 3 minutos depois, chega ela, que de tão cansada quase não conseguia falar. Coitada, havia subido uns 400m correndo para nos avisar que o senhor cobrava 120.000,00 pesos (CARÍSSIMO!), mas tinha uma boceta (CALMA!!! É só um micro-ônibus! Hahahaha!!!) saindo naquele momento. Hahahahaha!!! Foi o momento mais eufórico da viagem. Victor ficou pagando o almoço e eu saí em disparada com Zinebra para segurar o busãozinn… O Capitão (motorista – hahaha!) e seu ajudante foram sensacionais. Desocuparam boa parte do bagageiro do ônibus enquanto eu tirava os alforges em 1 minuto e Victor arrancava todos os enforca gato que prendiam suas galéias… PENSE!!!

“Depois da tempestade, vem a bonança…” Me lembrei da minha Tia Lene falando isso… E depois de um dia com tanta loucura, passar 1 hora e 40 minutos naquele busão, confortável, com ar condicionado (que fez um frio danado!) tornaram os 20.000 pesos mais bem pagos da viagem até então.

 

Vishhhhhhh que esse post ficou muuuuuito longo, né?! Mas é que esse trecho foi intenso mesmo e com muitas particularidades… Por isso, vou deixar para fazer outro post apenas falando do que vivemos Zapatoca, que merece!!! Ahhhhh, não esquece de deixar um comentário… Num é possível que esse “sofrimento todo” (da gente em pedalar e teu para ler isso tudo) não mereça umas palavras de carinho!!! Hahahahaha!!!

[para ouvir agora: Tim Maia – “Bom Senso”]

é tudo nosso!!! #puravida

A viagem Colombia Paipa

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ciclista . janga . é tudo nosso . #puravida

21 comentários Deixe um comentário

  1. Eu quase cansei, não dá leitura que é sempre muito agradável, mas da dureza de tanta subida. Ainda bem que terminou tudo bem.
    Que Deus continue lhes protegendo, guiando seus caminhos e os abençoando.

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  2. È, eu teria reclamado… um pouco! hehehe

    Somos as escolhas que fazemos e também as que deixamos de fazer…

    (e essa sou eu subindo uma montanha do mundo virtual… por amor…)

    Curtido por 1 pessoa

  3. Fiquei cansado só de ler os posts. Não do texto, Mas, das subidas…subir com a Bike sem nada e uma situação, agora com bagagens, e foda!!! Vc é bruto demais….fica na Paz e vai com Deus. Abraços.

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  4. Pena que estilaram e apelaram pro busão no final HAHAHAHAHA (tou brincando, visse? Mas tua cara de felicidade dentro do busão me fez rir MUITO hahahaha).
    Como eu já disse a tu, quando eu for pra a Colômbia vou na bike elétrica pra não pedir arrego a boceta nenhuma HAHAHAHAHAHAHA
    Loviú ❤ :*****

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  5. Nada como a realização de um sonho mesmo com as condições adversas.
    O sacrifício e as angustias fazem parte do conjunto presente, e farão parte da história no futuro. Sempre avante…
    Deus os guie e protejam.

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  6. Olá! AFF fiquei exausta com todo esses sobes e desces.kkkk, mas, adorei o POST e as fotos ficaram massa. Parabéns pela realização, torço por você. Que Deus o acompanhe.Boa sorte filho.
    Ah ia esquecendo, graças a Deus apareceu uma boceta na tua vida kkkkk. ( Quem diria hein, salvo por uma boceta rsrsrs) tchau…

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  7. é shurek rosa, quando dizem ” o universo é mental”, eu acho q é justamente essa vivência sua ae. Não que a falta de água tenha feito tudo “piorar”, simplesmente tudo aquilo tava rolando mas sua mente tava sussa focando no BOM do caminho; quando acabou a água girou uma chave na mente de vc´s que disse: FU-DEU, vc entra em alerta, começa a computar todas as ameaças, incomodos… ai meu velho, realmente é duro demais; mas como tudo na vida: não há mal que dure pra sempre, nem bem que nunca se acabe e tudo findou numa alegria imensa dentro do boceto, passando pela doação de energia de dona Elalia, da hospitalidade do Fabian… e assim vai se fazendo o caminho. Já já tu tas na filosofia do “é bom pq é ruim, seria melhor se fosse pior”, como falou Flávia ali em cima… depois que passa, toda dor vira boa história pra contar.
    Mantem, mantem o giro… a alegria e o bem querer por esse instrumento de boa energia que é a bike.
    tem todo o continente te esperando pra dar um abraço.
    fiquem com Deus.

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