El Trampolín de la Muerte…

“(…) Era um rio onde tínhamos que passar como se fosse uma estrada. Dava medo, porque de um lado tinha água caindo a milhão “na tua cabeça” e do outro tinha água caindo a milhão “no teus pés”. Não dava pra ver o começo da cascata e muito menos ver onde acabava. (…) A gente decidiu passar com as bikes carregadas mesmo. (…)”

Esse post foi duro até para escrever… Mas você pode acompanhar mais “em tempo real” essa viagem me ajudando no APOIA.se/eniopaipa. ;))))
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Um pouco antes…

[para ouvir e relaxar: Cordel do Fogo Encantado – “Morte e Vida Stanley”]

Em San Agustín ainda, reencontramos Chepe (El Salvador) por um grande acaso e seguimos eu, ele e Lucia (Argentina) para Mocoa, onde íamos iniciar o famoso Trampolín de la Muerte, passando por San Juan de Villalobos nesse pedal. Com 5min de descida, Chepe já pedia un matecito pra Lucy que já transformou isso em uma das frases clássicas desse meu irmão… Hahahahaha!!! E entre descidas e subidas, acabamos acampando no quintal de um restaurante, com montanha e uma vista incrível na manhã, porque à noite foi “sofrido” por conta da quantidade de mosquito. No outro dia, esse pedal para Mocoa, sem muita diferença do que vocês leram aqui nesse BLOG: Montanha, Colômbia, Hahahaha!!!

Chegamos em Mocoa num domingo eleitoral e nossa vontade de tomar uma cerveja era imensa antes do Trampolim era imensa, mas a galera leva muito a sério a questão da Lei Seca no domingo que as pessoas vão às urnas. Uma lástima! Mas tas ligado que a gente é desenrolado, né? Hahahahaha… Então fui à uma tendinha na beira da estrada com as garrafas de água da bicicleta e pedi para que o senhor vendesse a cerveja que íamos colocar nas garrafas. E a conta saiu melhor que a receita: o senhor tinha umas televisões com video game que alugava e nos convidou para tomar dentro da sua casa… Hahahaha!!! Resultado é que de uma cerveja, passamos pra não sei quantas e o almoço foi Mani Moto de Limão e salgadinho tipo cebolitos… ;))))

Depois, íamos seguir para uma casa de um amigo, que hora dizia “recebo vocês sem problema” e hora dizia “não vai dar para recebê-los”.. Hahahahaha.. Nessa indefinição fomos buscar abrigo no corpo de bombeiros que nos deram um espacinho por uma noite! ;)))) Lá pelas tantas, o amigo, entra em contato chamando a gente pra jantar. Bom, nunca negamos amizades e COMIDAS! Mas deixa que o cara chegou nos bombeiros às 21:30, a gente tava dormindo e ele não se conteve e acordou a todos para comermos uma pequena (boa, mas pequena) arepa. Véééééi……. Hahahahahaha!!! Mas isso não seria a “maior bronca” antes do Trampolim: quando acordamos, Lucy tava com a barraca cheia d’água que condensou, molhando algumas roupas e seu saco de dormir. Se tem uma coisa ruim é tu molhar teu saco de dormir quando sabe que é provável acampar em um lugar muito frio, além de que fica 15x mais pesado. Não podíamos fazer muito além de começar a pedalar, então fomos…

Frio (na barriga)…

[para ouvir e subir: Banda Eddie – “O Céu”]

A gente tava psicologicamente preparada para fazer umas das pedaladas mais loucas das nossas vidas e isso é bem bom! Mas dá uma olhadinha nesse mapa:
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Depois do rio, não se enxergava a estrada em uma linha de 300m, porque sempre havia uma curva em, no mínimo, 90º…  Mas vamos pro começo do dia, né?

Saímos dos Bombeiros às 6h da manhã para fazer esse pedal que foi suave nos primeiros 10km, pelo meio do caos do trânsito de Mocoa e sempre com estrada pavimentada. Lucy e Chepe pararam para comprar uns pães e eu não me liguei e fui pedalando sozinho até o rio, onde acaba a estrada pavimentada e começava de fato el trampolín de la muerte. Haviam 3 policiais depois da ponte e perguntei se ali era o Trampolim e eles confirmaram e me disseram: “va si atrapar con bicicleta? és loco!” Quase que respondia que ele não era a primeira pessoa que me falava isso na vida, mas só consegui dá um sorrisinho irônico e preocupado. Esperei a galera e VAAAAAAMOS! #tenso

A estrada (se é que podemos chamar assim) é um monte de pedra de diversos tamanhos e os primeiros 3km são duros pela mudança de relevo, porque a empinada não é das mais difíceis. A primeira empinada dura, de verdade, é em uma curva de uns 120º, onde a melhor solução é descer da bike e começar uma série, QUASE INTERMINÁVEL, de empurrar as magrelas (não tão leves assim!)… Daí por diante seria contáveis os momentos de 20 ou 30 minutos seguidos sentado no banco e fazendo muita força, porque quase sempre estávamos a empurrar as bicicletas fazendo um esforço bem maior do que se estivéssemos pedalando.

Passamos por uma obra e um dos 10 trabalhadores disse: “Quando vocês estiverem ali (em cima), gritem pra gente acenar pra vocês…” Hahahahaha!!! Véééééi… Ele apontou pra uma montanha e pensei: “F-U-D-E-U-!-!-!” Hahahaha!!! Era meio impossível que a estrada passasse onde ele apontava, mas era possível! E as surpresinhas não paravam por aí, porque uns 200m depois tinha uma cachoeira linda QUE CRUZAVA A ESTRADA… Hahahaha!!! É isso mermo, a cachoeira rolava de um lado pro outro da estrada formando outra cachoeira mais linda que caia por de baixo dos nossos pés e pneus… Escrever sobre isso deve me deixar com a mesma cara de quando vi isso: é difícil pra um sambudinn de JANGA pensar/racionalizar como a natureza pode ser tão incrível e o homem tão ousado para fazer esse momento acontecer. Era tudo muito bonito, tudo muito louco, tudo muito desgastante, tudo muito recompensador e feliz. Apesar de estarmos cansados em uns 5km (em quase duas hora de pedal/caminhada), a gente tava feliz demais de estar ali e poder compartilhar esse momento juntos. E a felicidade só aumentava a cada paradinha para comer galletas. E foi comendo biscoito recheado/waffer que a gente foi o dia todo. Hahahaha!!! Bem verdade que tinha uns 6 pães e uns pedaços de bocadillo (goiabada), mas a base nutricional foi biscoito!!! ;))))

Lá pelas tantas (não dá pra decorar o momento, hora etc, porque o dia no Trampolim é igual das 7 até às 16h…) com o mesmo frio, com uma pequena chuva, com mais outras cachoeiras cruzando a pista e com um monte de cansaço, conhecemos um motorista de caminhão de gás (Óhhhh o gááááás!!! ~ /dancinha/) que foi dizendo bem mais ou menos o que íamos encontrar na estrada. Lembro que falou faltar 12km para um quartel da polícia, que era o ponto mais alto do trampolim e depois tinha um restaurante onde podíamos comer e tentar acampar. Também disse: “Esse é o pior trecho, muita curva!” Tas ligado, né? Muita curva numa montanha significa que vai ter muita CURVA DE NÍVEL, ou seja, descer ou subir (nosso caso!)…

Maaaaaas, sempre duvide de quando um colombiano fala que vai ser fácil ou plano. Duvide também quando um colombiano fala que vai ser difícil… Hahahaha!!! Era difícil, era estreito, era cheio de curva, mas a gente tava entrando naquela fase de que tudo era igual e nada podia ser mais difícil ou mais fácil. E, 10km depois do amigo do gás, chegamos no mirador da polícia, que não deixou a gente acampar lá… Nos informaram que há 4km haveria um restaurante. Fomos! Confesso que tava tão esgotado (e o banho de água fria dos policiais foi phoda!) que tava afim de acampar na frente da polícia na estrada mermo. Sorte minha que estava com Chepe e Lucy e seguimos esses últimos 4km massacrantes que demoraram quase uma hora e meia. Chegamos em um vilarejo (nesse lugar, 4 casa juntas já é uma metrópole) e lá estava o tal restaurante, com CAFÉ QUENTE E ALMOÇO!!! Uhhhhhh, que phoda!!! ;)))))) E para melhorar, o senhor dono do restaurante abriu um “abrigo comunitário” pra gente e, pasmem, TINHA BANHO QUENTE!!! Luuuuuuuuxo puro, como diz MEU REGADORZINN. E esse abrigo foi incrível porque pensávamos sempre como Lucy iria dormir com aquele saco de dormir todo molhado. Tinha cama e cobertores também… Um paraíso!!! ;))))) De bucho cheio, com banho quente tomado, só faltava a gente ver Mocoa lá de cima: E ROLOU!!! Por uns 2 minutos, as nuvens se foram, o sol apareceu e a gente conseguia enxergar a cidade que havíamos saído ali, bem pertinho, nem parecia que a gente tinha feito esse pedal de 36km em um dia todo. E só para finalizar esse dia maluco, uma hora depois chegou um cicloturista sueco que estava fazendo o trampolim ao contrário da gente… ;)))))

E ainda tem que descer…

[para ouvir e embalar: Academia da Berlinda – “Bem Melhor”]

Dia 2 do Trampolim e às 7h já estávamos prontos e tomando um café da manhã massa no restaurante do Senhor Sem Nome. É difícil pensar no cansaço extremo e, mesmo perguntando o nome das pessoas, com 2 segundos tu esquece, porque não processa nada dentro da racionalidade. É bem doido.. E começamos a DESCER!!! Hahahaha!!! Tou rindo porque os 10 primeiros minutos da descida nós três estávamos quase morrendo de frio e íamos cantando alto, cada um uma música distinta ao mesmo tempo, para iludir a mente. Eu tava super preocupado com Chepe, que ia começar a descida só com o freio dianteiro. E eu Lucy também não estávamos tão bem de freios assim, pelo menos tínhamos os dois. A chuva fina e constante, a falta “de pedalar” e o nível de concentração e técnica nesse dia foram nível very hard. Os dedos das mãos começaram a congelar e doíam muito porque toda hora tava fazendo força para frear a bicicleta. Daí encontramos um casal da Inglaterra que estavam subindo. Abraço, fotinha e informações sobre o percurso. Eles nos diziam que a estrada ficava melhor (com pedras menores e mais presas no chão) e a subida que eles tinham feito era pedalável, dura mais pedalável. Nós dissemos: Vai na fé e devagar!!! ;))))))

O tráfego no Trampolim é gigante. Era difícil passar 5 minutos sem que passasse um carro (leia-se van/caminhonete de transporte público ou caminhão). E a galera que vai nessa porra de estrada faz isso todo dia, indo e vindo. Por isso, pensam que sabem tudo da estrada e andam muuuuito rápido, sem um pingo de paciência quando veem um ciclista. Sei lá, acho que a galera se sente tão impotente que quer excluir quem tenta ser potente. E olhe que essa galera deve ver muito ciclistas com seus alforjes passando por essa leyenda de carretera.

E assim fomos, fomos e fomos… Lá pelas tantas, um trecho muuuuito estreito, com um desmoronamento gigantesco (e lindo!) e uma máquina (sei lá, retroescavadeira…) trabalhando. Nessa hora não havia estrada. Era um rio onde tínhamos que passar como se fosse uma estrada. Dava medo, porque de um lado tinha água caindo a milhão “na tua cabeça” e do outro tinha água caindo a milhão “no teus pés”. Não dava pra ver o começo da cascata e muito menos ver onde acabava. Que doideira… O cara que estava na máquina nos sinalizava o melhor lugar para passar. A gente decidiu passar com as bikes carregadas mesmo. E passamos bem pelas pedras gigantes e uma correnteza forte, que se a bicicleta (ou eu) escorregasse, descobriríamos o porque do nome dessa estrada. Nesse ponto ainda deu para ajudarmos um casal que iam passar de moto (o cara foi e a menina pegou uma carona de 50m numa van). Vibramos quando o cara passou de buenas e deu uma coisa esquisita quando vi aquela van passando tão perto do penhasco. Tenho certeza de que se as pessoas que estavam na van soubessem a força daquela correnteza, desciam e passavam a pé… Hahahahaha!!!

Uma subidinha marota e quando vamos começar a descer, meu bagageiro dianteiro quebra pela 2ª vez na viagem. TÁQUIUPARÉÉÉÉUUUUU!!! O que fazemos? Além de quase congelar de frio, coloco os dois alforjes dianteiro em cima dos outros e “vou aprender” a pedalar com o centro de gravidade da bicicleta todo diferentão… Mas vaaaaaamoooos!!! E em uma parada por razões de pista muito estreita e van em “alta velocidade” (quando falo assim, falo de uns 20~30km/h), #ZINEBRA quase me derruma, por conta de questões de peso todo desregulado… Hahahahaha…

E quem disse que nesse pedal a gente só ia descer? Tinha uma subida eterna e eu só pensava: “Vai acabar logo! Vai acabar logo!”. Paramos para almoçar numa vila (outras 4 casas!) e um caminhoneiro nos disse que faltam 6km de subida depois era “pura bajada!” Fizemos uma aposta em qual km começávamos a descer e quem acertasse ou chegasse mais perto, ganhava uma cerveja de cada! Hahahahaha!!! Chepe ganhou!!! ;)))) Mas quando começou a descer, a gente queria continuar subindo, porque o frio é quase insuportável. E eu com a bicicleta toda doida descia muuuuito mais devagar. A sensação de que o Trampolim está acabando também é bem boa, mesmo faltando uns 10km ainda.

Descidas grandes, técnicas e um arco-íris lindo. Isso fez parte do meu percurso por 5km. Em uma das curvas, eu ouvi os gritos de Chepe e Lucy, que estavam há 1km de distância pela estrada e uns 100m em linha reta… Hahahahaha!!! Mas nesse ponto eu parei porque já não havia mais freios. Isso mesmo: EU NÃO TINHA NENHUM DOS FREIOS!!! Nunca pensei que isso pudesse acontecer (pessoa de JANGA, né?!), mas aconteceu e tive que descer da bicicleta e “empurrar” por 5km. Esse “empurrar” foi muuuuito difícil, porque, na real, eu tinha que segurar a bicicleta, já que a inércia fazia sua função de empurrá-la. Sussa né?! NÃO! Frio da porra, bicicleta com o peso todo atrás e uma sensação de que o Trampolim não ia acabar nunca!!! Hahahahaha!!! Pra minha sorte, encontrei um senhor e seu cachorro caçador e fomos uns 3km conversando e nos distraindo um pouco. Enquanto isso, Lucy e Chepe se aqueciam com café quente em San Francisco, a primeira civilização fora do Trampolim e dentro do pavimento, porém super preocupados porque para completar essa odisséia, em Popayán tinham roubado minha bomba de encher pneu e estava dependente deles caso furasse meu pneu. Quando cheguei, foi massa estar de novo com eles, tomar um #quenteamargoepreto e finalmente colocar um freio em #ZINEBRA.

“Oxeeeee tabacudo, se tu tinha pastilhas de freio, porque não colocasse pra descer a ladeira?!”, você pode estar pensando. Te respondo: “Véi, tava muito frio, as bagagens tudo desordenada e a estrada é estreita d+ para ficar fazendo serviço na bike…” E também tinha essa coisa da galera tá preocupada… E também tinha essa coisa de que eu queria sair do Trampolim de uma vez por todas! Depois foi um pedal beeeeeem feliz, por estrada pavimentada, plana e com direito a ganhar um trocado de uma senhora para que a gente comece algo. E mais feliz ainda porque íamos chegar na casa do amigo Cabunga, do WarmShowers. Mas já tá todo mundo cansado de Trampolín de la Muerte e depois conto dos dias incríveis em Sibundoy. ;))))

[para ouvir no calorzinn: Banda Eddie – “Falta de Sol”]

é tudo nosso!!! #puravida
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Essa viagem está sendo apoiada por Bruno, Vitor, Luciana, Marcella, Tarcísio, Flávio, Marcos, Karine, Juliana, PAI, MÃE, Eliete, Vinícius, Mariana, Ilana, Lucas, Maria, Patrícia, Juliana, Javert, Marina, Luciana, Pedro, Heberton, Vick, Ivan, Erica, Renata, JP, Gabriel e Lucas, Damião, Tia Bil, Elisabete, Monique, Almir, Maurício, Rafael, Patrícia, Felippe, Mariana, Evelyn, Gonçalo, Anderson e Mario no APOIA.se/eniopaipa.

A viagem Colombia

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